Manoel Tavares Rodrigues-Leal – (1941-2016)
A. Sophia de Mello Breyner Andresen.
Um dia, Rodrigues Leal, ainda
muito jovem, na clínica de S.Miguel, quando do nascimento de um filho de Maria
Ana Burstoff do Espírito Santo Silva Sousa Tavares, primeira mulher de Miguel
Gonçalves (irmão de Francisco Sousa Tavares), cruzou-se, não se sabe se pela
primeira vez, com Sophia.
Segundo palavras de Manoel
Leal: "Sophia parecia pairar, com o seu ar aristocrático. Parece que as
musas lhe ensinavam a poesia."
Não identificando de momento o
jovem Manoel, Sophia pergunta a um outro familiar: "Quem é?"
"É o filho da tia
Tanina."
Sophia: "Ah!"
Manoel Rodrigues-Leal interpela
Sophia: "Não gosto dos seus poemas políticos."
Sophia: "São iguais aos
outros..."
"A Sophia passeava-se
aérea. Não era a loucura. Era o que os ingleses chamam 'lunatic'."
Anos mais tarde, Manoel almoça
em casa de Sophia em Lagos no Algarve.
Manoel no café Eira (Anjos) -
anos 80 do século passado.
Foto de Luís de Barreiros
Tavares.
Café "Eira" na Rua do Forno do Tijolo no bairro dos Anjos (finais de 80). Apenas por graça, e tentando honrar o melhor possível tamanha correspondência - espacial e temporal - lembra-se aqui que a actual «Rua do forno do tijolo» foi, segundo consta, o antigo «Caminho do forno do tijolo» onde se situava a sede da Direcção (Luis de Montalvor) da extraordinária revista Orpheu.
"Não fiquei nem em Rimbaud
nem em Pessoa. Não sei se a minha poesia traz algo. Mas escrevo o que
quero." Manoel Tavares Rodrigues-Leal
C. Maria Velho da Costa e Pedro Tamen.
Um dia, anos 70, em casa da
escritora Maria Velho da Costa, após esta ler alguns dos seus poemas, foi-lhe
sugerido por ela que contactasse Pedro Tamen para tentar publicação. Foi a casa
dele levar-lhe os manuscritos. Dias mais tarde encontraram-se numa livraria.
Tamen indicou-lhe a publicação na Moraes Editora, da qual era director, ao que
parece, tendo de pagar 11 contos pela edição. Não publicou. "I would
prefer not to", como diz o outro (no Bartleby de
Melville)?
D. Eduardo Prado coelho.
Conheceu Eduardo Prado Coelho
num café da Avenida de Roma, provavelmente no famoso Tic-tac: "tenho uns
poemas que gostava que visse". Prado Coelho respondeu-lhe: "Apareça
na Faculdade de Letras da parte da manhã e leve-os para eu ler." Não
apareceu. "I would prefer not to"?
E. Conheceu e conviveu em cafés da Avenida
de Roma com o crítico de arte Rui Mário Gonçalves.
F. Caeiro.
Comprou em Cascais em 1963 uma
terceira edição de Alberto Caeiro.
G.
Manoel Vilaverde, pai de
Manoel, foi amigo de António Botto, do dandy Augusto Santa Rita (poeta, irmão de Santa Rita Pintor), António Ferro,
Fernanda de Castro (mulher de António Ferro), Pedro Teutónio Pereira, Almada
Negreiros, António Sardinha ("ícone maior do integralismo lusitano"
Manoel), entre outros, com quem travou longas conversas nocturnas no
Rossio em Lisboa.
Entrevistou Almada Negreiros.
H.
Numa viagem a Paris nos finais
dos anos 60 ou princípios de 70 levou para ler O Banqueiro Anarquista de
Pessoa.
I.
Frequentou um grupo do café
Monte Carlo em 70 onde conheceu Herberto Helder com quem frequentou festas
particulares (as meio-clandestinas party dos anos 60 e
princípios de 70) juntamente com outros amigos comuns. "Um deles foi
Eduardo Jorge Garcia de Freitas" (Manoel). Uma vez num encontro com o
Herberto Helder, falou-lhe da Sophia (Andresen). O Herberto disse-lhe que
preferia a primeira fase da poesia da Sophia.
J.
"O que é a poesia para
ti?", perguntou um dia o irmão mais velho ao Manoel quando este tinha 27
anos. Manoel: "A poesia é a pesquisa da palavra".
L.
Conhece no princípio dos anos
70 o poeta Gastão Cruz no extinto café Monte Carlo. Gastão Cruz fala da
possibilidade da publicação de um livro do Manoel. Encontram-se também no
Centro Nacional de Cultura. Mas o livro não foi avante. Naturalmente porque o
Manoel não deu continuidade ao assunto.
M.T.R.-Leal. : Gosto muito do
seu livro Escassez.
G.Cruz. : Também gosto.
M.
Teve como professores José
Marinho e sua mulher.
N.
Frequentando as faculdades de
Direito de Lisboa e de Coimbra chegou ao 5º ano, tendo feito 21 cadeiras, mas
não acabou por não concluir a Licenciatura.
O.
Item retirado para certificação.
P.
Há cerca de cinco anos (2007)
foi oferecido o primeiro livro do Manoel (A Duração da Eternidade) a
Maria João Seixas, por um amigo comum - José Eduardo Cabral Mimoso Serra. Maria
João Seixas apreciou muito o livro, chegando a dizer num encontro na Culturgest,
junto de Nuno Júdice, que se tratava de um grande poeta. Tentou contactá-lo por
telefone enviando-lhe o número por intermédio desse amigo. Manoel preferiu
manter-se no seu retiro. Optou por privar-se, de algum modo, de eventuais
exposições públicas através de, por exemplo, publicações com mais visibilidade.
Mas agora (2/2012), parece estar a mudar de ideias. Tanto assim que tenciona
enviar os últimos livros publicados a Maria João Seixas.
Q
"No colégio particular
Académico estive no quadro de honra desde o primeiro ano ao sétimo do Liceu
como segundo melhor aluno."
R
R
Conheceu o grande poeta António
Ramos Rosa numa consulta de psiquiatria do Hospital de Santa Maria. Ramos Rosa
levara um livro do seu amigo Pedro Tamen. Lia-o com muita atenção. O Manoel e o
Ramos Rosa trocaram umas impressões sobre aquele poeta.
S
Enviei-lhe um sms a
dizer que a frase do Eduardo Lourenço ("a escrita é um risco total")
serviu de tema para um debate das "Correntes d'Escritas 2012" e para
uma intervenção do Ruben Fonseca.
Resposta: "É um risco que
inere a todo o tipo de escrita, até a científica".
T
Os pseudónimos baseiam-se em
nomes verídicos de família que o poeta adopta e constrói. Todavia, tal como o
autor refere, 'Manoel' é a matriz ou o ortónimo que consta nos pseudónimos.
U
"Eu [Manoel] e o José
Manuel dos Santos (José Manuel Boavida dos Santos - actualmente professor de
filosofia na Universidade da Beira Interior - UBI), tínhamos um projecto para
abrir uma livraria e tabacaria no belíssimo café Londres em 1972." Mas
entretanto foi-lhes comunicado pelos patrões do café que o espaço tinha sido
vendido ao Banco Espírito Santo. Por esta altura estava lá sempre o João César
Monteiro e a Margarida Gil.
"Manoel Leal (era assim que eu o tratava). Convivi bastante com ele num período que vai de fim de 1969, quando o conheci num café do Areeiro, a Maio de 72, altura em que saí de Portugal. Regressei em 1994; no intervalo vim muito raramente a Portugal, com estadias muito curtas de alguns dias. Encontrei-me com o Manoel, nestas curtas estadias, duas ou três vezes; uma vez em Paris. Depois de 94 encontrámo-nos uma ou duas vezes. O Manoel era um amigo exigente e difícil. No período 69-72 foi alguém muito importante para mim, que me marcou muito, e que estimei muito. Retrospectivamente, penso que o meu afastamente, depois do meu regresso, foi sobretudo motivado pelo desejo de não "perturbar" a memória do período 69-72, em que a nossa relação foi profunda. Estou consciente que, para um observador externo, esta atitude parecerá egoísta."
(testemunho de José Manuel Santos - por email - 17/08/2017)
"Manoel Leal (era assim que eu o tratava). Convivi bastante com ele num período que vai de fim de 1969, quando o conheci num café do Areeiro, a Maio de 72, altura em que saí de Portugal. Regressei em 1994; no intervalo vim muito raramente a Portugal, com estadias muito curtas de alguns dias. Encontrei-me com o Manoel, nestas curtas estadias, duas ou três vezes; uma vez em Paris. Depois de 94 encontrámo-nos uma ou duas vezes. O Manoel era um amigo exigente e difícil. No período 69-72 foi alguém muito importante para mim, que me marcou muito, e que estimei muito. Retrospectivamente, penso que o meu afastamente, depois do meu regresso, foi sobretudo motivado pelo desejo de não "perturbar" a memória do período 69-72, em que a nossa relação foi profunda. Estou consciente que, para um observador externo, esta atitude parecerá egoísta."
(testemunho de José Manuel Santos - por email - 17/08/2017)
V
"Nos 2 últimos anos em que
trabalhei na Biblioteca Nacional pedi por escrito à directora de divisão e ao
director de serviços uma regalia para sair todos os dias mais cedo, trabalhar e
terminar o meu livro que queria publicar. O texto estava cuidadamente escrito.
Eles sabiam perfeitamente que eu me estava nas tintas para o ambiente e para o
trabalho em si mesmo."
X
"Aos 18-20 anos escrevi os
primeiros poemas. Aos 26-27 anos comecei a desmembrar a minha poesia ao mesmo
tempo que fazia uma grupo-análise com o Dr. Azevedo e Silva (psiquiatra e
grupo-analista). Nessa altura conheci uma rapariga linda, Maria de São Pedro.
Estava em ciências físico-químicas.
Y
"O Mário Sério, ilustre
desconhecido, que frequentava o café Copacabana, era um apaixonado por Brecht,
Stanislavsy, Rimbaud, Verlaine, entre outros. Vestia-se de modo muito
particular, com fato negro de veludo. A dada altura desapareceu do mapa."
Z
"Quando saía do colégio
militar em Campolide, durante o serviço militar, ia jantar com a minha mãe.
Depois voltávamos para casa. Ela fechava as duas portas do quarto à chave e eu
por vezes levantava-me da cama, batia com os punhos na porta e gritava:
"não sei escrever bem e não sei falar bem!""
A1
Por que é que o autor usa vários pseudónimos? Jogando com vários
nomes de origem familiar e, segundo diz, e ao que parece, aristocráticos.
Retrabalha-os (p.ex., Ferreira > Ferreyra), indo buscar aqui e ali,
combinando-os. Não se trata, segundo ele, de uma certa "construção e opção
teatral" como acontece com Fernando Pessoa e os seus heterónimos.
Juntando a isto, Manoel pretende não esquecer esses nomes. Aliás,
como já foi dito algures, e é o autor que faz questão de assinalar, o nome
"Manoel" está presente em todos os pseudónimos. Manoel chama-lhes por
vezes heterónimos. Mas parece optar pela primeira designação: pseudónimos.
"Manoel" é assim, segundo ele e nas suas palavras,
"a matriz daqueles pseudónimos", sendo que se inclui também no nome
civil: Manoel Tavares Rodrigues-Leal.
B1. Em conversa: seis cadernos antigos, entre outros, considerados relevantes
pelo autor:
Odes domésticas
Apresentação de Paula
Ciclo incompleto sobre a
memória de uma mulher
Elogio do Rigor
A Composição da Presença
Do Ócio e Meditação em Cintra
A Composição da Presença
Do Ócio e Meditação em Cintra
C1. Em finais de 60 ou princípios de 70 faz
uma em Paris com Eduardo Jorge Garcia de Freitas (sociólogo) e Emílio Aquiles
de Oliveira (engenheiro). Encontra-se com outro amigo, José Manuel Boavida dos
Santos que nessa altura estudava filosofia na Sorbonne.
C2
Foi amigo do poeta Cristovam
Pavia (Lisboa, 7 de outubro de 1933 - Lisboa, 13 de outubro de 1968).
Dedicou-lhe vários poemas.
Outros comentários
1. "É de uma inegável qualidade poética" (Eduardo Lourenço após ler alguns manuscritos - 2011)
1. "É de uma inegável qualidade poética" (Eduardo Lourenço após ler alguns manuscritos - 2011)
2. Dezembro de 2016:
“Espanto... uma singularíssima sílaba
oceânica, secreta e com uma pitada de Bartleby e outra de corsário... e
aproveite-se e descubra-se o sopro, o balbucio da sua voz no Youtube...Manoel
Tavares Rodrigues-Leal”
(António Cabrita)
António Cabrita sobre https://caliban.pt/arthur-rimbaud-manoel-tavares-rodrigues-leal-1941-2016-9566af9b2f37#.3nlzh4dxn
3. "Uma revelação muito interessante" (Fernando Cabral Martins, depois de ler alguns poemas a Fernando Pessoa - 2019)
Publicações:
O autor publicou 5 livros de edição de autor entre 2007 e 2011-12.
O autor publicou 5 livros de edição de autor entre 2007 e 2011-12.
Na
Caliban uma publicação (26/12/2016) com poemas de Manoel Tavares Rodrigues-Leal
sobre Rimbaud:
Na Caliban: publicação de um artigo (06/01/2017):
Evocação de Sappho (Safo de Lesbos) – Poemas de Manoel Tavares Rodrigues-Leal:
Na Caliban (20/01/2017) - Turner — Byron — Wilde — Eliot - Quatro poemas
inéditos de Manoel Tavares Rodrigues-Leal:
Na Caliban (24/02/2017) - Evocando Sophia de Mello Breyner Andresen— Seis poemas inéditos de Manoel Tavares Rodrigues-Leal:
https://revistacaliban.net/evocando-sophia-seis-poemas-in%C3%A9ditos-de-manoel-tavares-rodrigues-leal-42013d071dcf
Na Caliban
(31/03/2017) Cesariny — Herberto — Armando da Silva Carvalho — Gastão Cruz - Inéditos — Quatro
poemas a quatro poetas (1976) e Ars Poetica II (1977) - por Manoel Tavares
Rodrigues-Leal
Na Caliban (11/07/2017) Quatro poemas inéditos a Pessoa — Artaud — Rimbaud — Por Manoel Tavares Rodrigues-Leal:
Na Caliban (03/11/2017) Algumas musas na poesia de Manoel Tavares Rodrigues-Leal
Evocando Pessoa — 7
poemas inéditos por Manoel Tavares Rodrigues-Leal – 22/07/2018
Inéditos do espólio
-
Desde 2013 que são publicados poemas na revista Nova
Águia (semestral)...
2 poemas publicados na revista «A
Ideia» (n.º triplo: 81-83), 2017.
A secção que segue carece de uma reorganização:
Sophia de Mello Breyner Andresen
-
Amadeo de Souza-Cardoso
À mesa do pensamento, nos ajoelhamos:
As cores são velozes, colidem:
Um espelho fragmentado fecunda sol e sombra.
Eis a ordem do real por que as coisas, olhadas, nomeamos.
A secção que segue carece de uma reorganização:
Manoel Tavares Rodrigues-Leal, (2014), 2º
semestre, «PENÉLOPE», Nova Águia nº14, pp.
265.
PENÉLOPE fia a auréola do tempo
Adivinha a riqueza da memória
Espera a vinda de ULISSES seu amante
desejado
E sob a abóbada do céu abençoado
Tece-se a noite num manto desgrenhado
PENÉLOPE nunca se foi embora
Dádiva transparente e de glória
Curvou-se docemente nos ombros da
vigília do vento.
Revista Nova Águia,
nº17, 1º semestre, 2016, p. 225, Sintra, Zéfiro.
(Perfil de Sophia)
reerguer o equilíbrio grego da beleza: medida
do homem e do mundo, eis a alquimia a embriaguez
de Sophia, consumida através do templo antigo do poema.
Lx.25-1-79
reerguer o equilíbrio grego da beleza: medida
do homem e do mundo, eis a alquimia a embriaguez
de Sophia, consumida através do templo antigo do poema.
Lx.25-1-79
Caderno Limae Labor
Sophia (após leitura de Dual)
imagem fugidia
que emerge da antiguidade do dia,
e morre, insone e perpendicular,
irmã da unidade e da medida do olhar.
Lx. 18-3-73
Caderno Limae Labor
Sophia de Mello Breyner Andresen
-
(a Alberto Caeiro)
Sê simples e calmo como Caeiro o era
Imperturbável percorre o teu caminho como o
dia que amanhece
E se não distingue dos dias adiados e
extintos como da recordação dos dias que
meramente o serão
-
(a Ricardo Reis)
No reino de Ricardo Reis
Cada instante efémero é intacto, transeunte e antigo.
A nítida ideia dos deuses emerge jovem e pagã
Como a opulenta arquitectura de um jardim
suspenso na manhã.
Sê simples e calmo como Caeiro o era
Imperturbável percorre o teu caminho como o
dia que amanhece
E se não distingue dos dias adiados e
extintos como da recordação dos dias que
meramente o serão
-
(a Ricardo Reis)
No reino de Ricardo Reis
Cada instante efémero é intacto, transeunte e antigo.
A nítida ideia dos deuses emerge jovem e pagã
Como a opulenta arquitectura de um jardim
suspenso na manhã.
-
Poemas de Manoel Tavares Rodrigues-Leal publicados na revista
Nova Águia nº 18
A Ricardo
Reis
as ondas
de odes de um livro, longe,
lógico,
mansamente lírico: Ricardo Reis.
e de sua
loucura e de Lídia vos lembreis,
em sua
ausência, a de Pessoa: que ele vos em vãos sonhos sonhe.
Lx.24-1-77
-
Manoel Tavares Rodrigues-Leal , (2014),
1º semestre, «(Fernando Pessoa)», Nova Águia, nº13, pp.
160.
(Fernando Pessoa)
Aqui a superfície do mar é profunda,
profusa e lisa, (prateada de pranto):
Aqui irrompe a presença impessoal de
Fernando Pessoa:
As escamas do mar jazem sob o brilho de
luzes antiquíssimas. E o seu nome, suspenso e nomeado, ressoa.
-
Este poema provém do acervo do poeta e
pertence ao caderno de inéditos Limae Labor (1973).
Data inicial do poema, com revisões
pontuais posteriores: Sesimbra - 30-6-73.
-
Poemas Manoel Tavares Rodrigues-Leal publicados no nº 18 da Nova
Águia – Outubro 2016
-
Eros Frenético
Para Ana Hatherly (1929-2015)
Este eixo exacto de sexo sobre sob
O qual sobrevoa um peixe impaciente de prata.
Apresenta-se ausente.
Oh “Umbigo dos limbos” (ARTAUD), de oblíquos e opulentos espelhos, brancas
asas
De ave coincidente.
Lx. 8-11-74
-
A Ricardo Reis
as ondas de odes de um livro, longe,
lógico, mansamente lírico: Ricardo Reis.
e de sua loucura e de Lídia vos lembreis,
em sua ausência, a de Pessoa: que ele vos em vãos sonhos sonhe.
Lx.24-1-77
-
Manoel
Tavares Rodrigues-Leal à esquerda na foto (barba), com um amigo - finais dos anos 60 ou
princípio de 70 do século passado em Versailles...
-
Amadeo de Souza-Cardoso
À mesa do pensamento, nos ajoelhamos:
As cores são velozes, colidem:
Um espelho fragmentado fecunda sol e sombra.
Eis a ordem do real por que as coisas, olhadas, nomeamos.
Manoel Tavares Rodrigues-Leal
Do livro Paisagens de Água
Lx.12-7-77
Manoel Tavares Rodrigues-Leal , (2015), 1º semestre, «Amadeo de Souza-Cardozo», Nova Águia nº15, pp. 38.
Manoel Tavares Rodrigues-Leal , (2015), 1º semestre, «Amadeo de Souza-Cardozo», Nova Águia nº15, pp. 38.
-
Advertências:
Não sabemos bem se devemos pôr letra minúscula ou maiúscula no início dos versos. Mas aqui referimo-nos ao cadernos de 70-80. Em conversa com o autor, acontece por vezes hesitar. No entanto, há uma nota de revisão em 2000-2001 indicando que as vírgulas e os pontos de interrogação deverão ser substituídos por pontos finais. Mas num poema mais à frente um ponto de interrogação e uma vírgula não são suprimidos. O certo é que nos 5 livros de edição de autor (entre 2007 e 2011), com poemas muito posteriores, todas as letra são minúsculas, não havendo vírgulas e frequente pontuação com «ponto final» (http://linguafone.blogspot.com). Também indica por vezes que se coloque uma letra "média" (?). De facto, é um detalhe ainda não decidido, pois os textos não passaram pela leitura e acabamento finais para eventual publicação. Com efeito, pode observar-se nos manuscritos mais antigos que as primeiras letras de cada verso são de dimensões idênticas às restantes. Provavelmente, esta opção gráfica deve-se ao tipo de relação que o poeta tem com o trabalho de escrita que lhe impõe um cuidado e uma minúcia que têm algo de 'micro'. Como se desse atenção, não só às palavras e às frases, mas à letra, às letras enquanto tais, cuja grafia dissesse respeito ao tempo e ao pensamento, justamente no sentido de tudo começar na letra, pesando-a (pensando-a) e nela se demorar. Demorar na letra, na palavra, na frase, enfim na construção do poema. Como se as letras fossem partículas no jogo dessa construção, no forjar, no burilar do poema. Partículas que não só relevassem da gravação-inscrição (da) escrita, mas também como se fossem pequenas incrustrações na matéria suporte que é a folha de papel. Ou granulações da escrita. Vem a propósito aquele célebre verso de Pessanha que Manoel tanto aprecia: " [...] Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..."
Tudo isto tem a ver com o corpo e a escrita, não podendo aqui desenvolver estas questões. No texto que escrevi "O acto de escrita de Fernando Pessoa", parte dele publicado na Revista Nova Águia nº8, e na sua totalidade neste mesmo blogue, encontram-se algumas abordagens sobre o tema do corpo e da escrita, embora na leitura de Pessoa.
Outra dificuldade é a de, por vezes, os nomes, como p.ex. o de "Lídia", surgirem com letra minúscula. Se bem que, no mesmo poema, o nome "Lídia" apareça tanto com letra minúscula como com maiúscula. Veja-se, conferindo o manuscrito, o terceiro poema desta série dedicado à "Lídia" de Ricardo Reis. Fica-se assim, por agora...
Uma última nota. Volto a repetir, não estou a publicar on line a obra poética de Manoel Tavares Rodrigues-Leal. Trata-se apenas de um ínfima parte. Se vale a pena, só o tempo o dirá.
Luís de Barreiros Tavares
18/02/2013
Não sabemos bem se devemos pôr letra minúscula ou maiúscula no início dos versos. Mas aqui referimo-nos ao cadernos de 70-80. Em conversa com o autor, acontece por vezes hesitar. No entanto, há uma nota de revisão em 2000-2001 indicando que as vírgulas e os pontos de interrogação deverão ser substituídos por pontos finais. Mas num poema mais à frente um ponto de interrogação e uma vírgula não são suprimidos. O certo é que nos 5 livros de edição de autor (entre 2007 e 2011), com poemas muito posteriores, todas as letra são minúsculas, não havendo vírgulas e frequente pontuação com «ponto final» (http://linguafone.blogspot.com). Também indica por vezes que se coloque uma letra "média" (?). De facto, é um detalhe ainda não decidido, pois os textos não passaram pela leitura e acabamento finais para eventual publicação. Com efeito, pode observar-se nos manuscritos mais antigos que as primeiras letras de cada verso são de dimensões idênticas às restantes. Provavelmente, esta opção gráfica deve-se ao tipo de relação que o poeta tem com o trabalho de escrita que lhe impõe um cuidado e uma minúcia que têm algo de 'micro'. Como se desse atenção, não só às palavras e às frases, mas à letra, às letras enquanto tais, cuja grafia dissesse respeito ao tempo e ao pensamento, justamente no sentido de tudo começar na letra, pesando-a (pensando-a) e nela se demorar. Demorar na letra, na palavra, na frase, enfim na construção do poema. Como se as letras fossem partículas no jogo dessa construção, no forjar, no burilar do poema. Partículas que não só relevassem da gravação-inscrição (da) escrita, mas também como se fossem pequenas incrustrações na matéria suporte que é a folha de papel. Ou granulações da escrita. Vem a propósito aquele célebre verso de Pessanha que Manoel tanto aprecia: " [...] Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..."
Tudo isto tem a ver com o corpo e a escrita, não podendo aqui desenvolver estas questões. No texto que escrevi "O acto de escrita de Fernando Pessoa", parte dele publicado na Revista Nova Águia nº8, e na sua totalidade neste mesmo blogue, encontram-se algumas abordagens sobre o tema do corpo e da escrita, embora na leitura de Pessoa.
Outra dificuldade é a de, por vezes, os nomes, como p.ex. o de "Lídia", surgirem com letra minúscula. Se bem que, no mesmo poema, o nome "Lídia" apareça tanto com letra minúscula como com maiúscula. Veja-se, conferindo o manuscrito, o terceiro poema desta série dedicado à "Lídia" de Ricardo Reis. Fica-se assim, por agora...
Uma última nota. Volto a repetir, não estou a publicar on line a obra poética de Manoel Tavares Rodrigues-Leal. Trata-se apenas de um ínfima parte. Se vale a pena, só o tempo o dirá.
Luís de Barreiros Tavares
18/02/2013
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